Diz uma notícia da capa do jornal i de hoje: “Começa hoje a cimeira que pode ditar o Futuro da vida na Terra”.
O combate às alterações climáticas é mesmo o grande combate dos nossos tempos. E devo confessar-lhe a nossa preocupação com a atuação do seu Executivo neste combate.
Estamos em plena Semana Global Pelo Clima, que culminará, na próxima 6ª feira, com a Greve Climática Global, e a Câmara do Porto não se associou a qualquer uma destas iniciativas, ao contrário de autarquias como Braga, Guimarães ou Funchal.
Em 2008, no âmbito do Pacto dos Autarcas, o Porto comprometeu-se com uma redução das emissões de CO2 em 45% até 2020, em áreas como a eficiência energética de edifícios, os transportes ou a mobilidade.
Durante metade deste período, o Porto foi governado pelo seu Executivo. Contudo, continua a esconder os relatórios de monitorização destas metas e a não divulgar os dados da redução das emissões do município. Aos insistentes e reiterados pedidos do Bloco, a Câmara Municipal tem respondido com silêncio absoluto.
Infelizmente, tudo indica que o Município do Porto não irá cumprir a meta de 45% de redução de emissões com que se comprometeu até ao próximo ano. E a nossa preocupação agrava-se porque, em matéria de combate às alterações climáticas, as ações deste Executivo são perfeitamente contraditórias:
a) “Cidade Sem Carros”
Não existe uma verdadeira política para uma Cidade Sem Carros. A Câmara ignorou a Semana Europeia da Mobilidade e o Dia Mundial Sem Carros, quando só em 2017, foram 3.500 as mortes em Portugal devido à poluição atmosférica.
Continua a não existir um verdadeiro plano municipal para a mobilidade sustentável, conforme recomendou o seu próprio Movimento nesta assembleia.
Não existe qualquer plano para a progressiva pedonalização da cidade, ou um plano de acessibilidade pedonal.
Não existe uma aposta nos elétricos como solução de mobilidade urbana, nem houve um esforço para alargar a extensão dos corredores BUS na cidade.
b) Rede de ciclovias
A Agência da Energia do Porto (em 2014) e o PEDU (em 2015) propunham uma rede ciclável por toda a cidade. 5 anos depois, os escassos troços construídos continuam a repetir os erros técnicos do passado; e grandes investimentos na requalificação de arruamentos não têm incluído a criação de infraestruturas para bicicletas.
A ligação Asprela-Campo Alegre continua sem sair do papel e são vários os relatos de munícipes que desistem de se deslocar de bicicleta no Porto, por falta de infraestruturas dedicadas e cansadas da insegurança entre os automóveis.
c) Megaparques de estacionamento
A Câmara continua a promover a construção de megaparques de estacionamento dentro da cidade, como os que quer agora construir no Aviz ou na Foz Velha.
Continua a licenciar grandes operações urbanísticas com milhares de novos lugares de estacionamento em pleno centro da cidade, sobrecarregando ainda mais infraestruturas já sobrecarregadas (p.ex. Quarteirão da Casa Forte; Porto Office Park na Rua de 5 de Outubro).
Isto é o oposto do que deveria estar a ser feito pelo Município: precisamos de uma cidade sem carros, e não de mais estacionamento privado.
d) Parques verdes e a arborização
A esmagadora maioria dos parque verdes de proximidade, previstos no PDM de 2006, nunca saiu do papel durante os mandatos do seu Executivo.
E nalguns locais, onde hoje o PDM prevê zonas de urbanização, é necessário que se convertam em áreas verdes arborizadas: p. ex. nas margens da Ribeira da Granja (Grijó) ou no Parque da Bouça.
No momento crítico em que vivemos, e numa matéria em que é tão fundamental o papel das autarquias, o Porto está a perder por falta de comparência.
Pergunto-lhe, por isso:
1. Qual o valor da redução de emissões de CO2 do Município do Porto em 2019, face aos compromissos assumidos no âmbito do Pacto dos Autarcas (45%, relativo ao ano de 2004)?
2. Como justifica o incumprimento das metas com que o município se comprometeu internacionalmente até 2020?
3. Face a este incumprimento, que medidas vai o Executivo adotar para garantir que o Porto recupera o tempo perdido em matéria de combate às alterações climáticas?
(Intervenção de Pedro Lourenço - deputado do Grupo Municipal do Bloco - no período de informação do Presidente da Câmara Municipal do Porto)
Assembleia Municipal de 23 de Setembro de 2019