Visita e reforço do compromisso com o Coliseu do Porto

Visitámos o Coliseu do Porto, uma das casas de cultura mais emblemáticas do país, para acompanhar as obras de reabilitação em curso e conhecer os planos da instituição para o futuro. Foi uma visita carregada de significado — cultural, simbólico e político.

O Coliseu é muito mais do que um edifício. É um espaço de memória coletiva, de identidade portuense e de resistência cívica. Um palco que pertence à cidade.

É impossível estar neste lugar sem lembrar que, em 1995, a cidade teve de se mobilizar contra a tentativa de venda do Coliseu à Igreja Universal do Reino de Deus. Foi um momento marcante na história do Porto, que uniu artistas, técnicos, instituições e cidadãos numa luta que ficou gravada na memória coletiva como um dos maiores exemplos de resistência em defesa da cultura.

Mas a ameaça não ficou no passado. Em 2019 e em 2023, voltou a estar em cima da mesa a possibilidade de concessão da gestão a privados. Em ambos os momentos, dissemos um não claro e firme. Porque acreditamos, com total convicção, que a cultura não pode ser entregue à lógica do lucro, e que o Coliseu deve manter-se como um espaço público, democrático e acessível.

Hoje, ver esta instituição com obras de requalificação em curso, com uma gestão pública responsável e com um plano ambicioso para o futuro, é motivo de satisfação. Mas nem tudo corre como deveria.

Os prazos impostos pelos Avisos do NORTE 2030 para as obras na Área Metropolitana do Porto são absurdos. E tornaram-se tão apertados porque a CCDR-N não cumpre os prazos a que está obrigada para lançar os avisos de financiamento e processos subsequentes. Não é apenas um problema que acaba por afectar o Coliseu: quem acaba por sofrer as consequências são os promotores, que ficam sob pressão para cumprir calendários irrealistas e, por vezes, aceitar propostas de empreitada que não são as mais adequadas. Isto compromete a qualidade e a sustentabilidade de intervenções que exigem tempo, rigor e cuidado patrimonial.

E há outra contradição que importa denunciar: o Estado central exige muito, mas financia muito pouco. O apoio público que o Coliseu recebe do Ministério da Cultura é extremamente exíguo para uma estrutura desta dimensão. Estamos a falar de uma casa que programa centenas de espetáculos por ano e que tem apenas 22 trabalhadores. É absolutamente insuficiente — e um retrato claro das prioridades erradas na política cultural nacional.

A boa notícia é que há passos importantes a ser dados no plano laboral: serão finalmente celebrados contratos de trabalho com os assistentes de sala que assim o desejarem, garantindo estabilidade e justiça a quem há anos assegura o bom funcionamento do espaço. Para quem preferir, serão também possíveis contratos de curta duração ou de prestação de serviços — respeitando diferentes situações e opções individuais.

Em 1995, em 2019 e em 2023, estivemos do lado certo da história. Hoje estamos aqui e continuamos firmes: ao lado da cultura pública, da dignidade laboral e da boa gestão dos recursos.