Um programa de reabilitação das ilhas é possível!

Na Lomba (Bonfim / Campanhã), decorrem obras de habitação pública que prometem transformar a vida de dezenas de famílias anteriormente alojadas em ilhas. A iniciativa, que visitamos recentemente, representa um modelo exemplar de reabilitação urbana com forte preocupação social.

As novas habitações oferecem melhores condições de conforto térmico, ventilação adequada e espaços mais amplos, mantendo as rendas anteriores. No total, 40 famílias das seis ilhas pré-existentes e demolidas serão realojadas no mesmo local, evitando deslocações forçadas para zonas periféricas. Além disso, mais sete famílias provenientes de outros locais também serão acolhidas neste projeto.

“Parece uma revolução”, comentou um dos presentes. E, de facto, trata-se de um investimento significativo, cerca de 8 milhões de Euros, concretizado através de fundos públicos nacionais, e do PRR. É a prova de que, quando existe vontade política, os recursos aparecem. Mas não é menos verdade que se a vontade política quiser ir mais longe e intervir noutras ilhas, o orçamento municipal e outros fundos comunitários seriam mais do que suficientes para mais projetos.

Um dos aspetos mais marcantes do projeto é a preocupação com a dimensão comunitária. No pátio comum, foram criados equipamentos de convívio, lavandaria e até uma churrasqueira — espaços pensados para fortalecer os laços sociais entre os moradores.

A estratégia de intervenção teve por base um inquérito participativo e social, conduzido pelo arquiteto Aitor Varea Oro, com o envolvimento direto das populações. Esta abordagem colaborativa assegurou que as novas habitações respondessem verdadeiramente às necessidades dos futuros residentes. Outro procedimento que garantiu uma relação de confiança absolutamente crucial foi o de o município assinar um contrato com os moradores assegurando o seu regresso à Lomba e a estas novas casas.

Nos últimos 12 anos de governação municipal, apenas um projeto semelhante — a reabilitação da Ilha da Bela Vista — teve um desfecho igualmente positivo. Por isso, esta intervenção na Lomba destaca-se como um exemplo raro e inspirador de política habitacional pública eficaz e centrada nas pessoas.

Aproveitamos ainda para visitar a histórica Associação de Moradores da Lomba. Esta associação encontra-se sem quaisquer recursos da Câmara ou Freguesia. Apesar do excelente trabalho que fez e continua a fazer, apesar dos elogios e visitas que permanentemente recebe, apoios financeiros são coisa que deixou de existir. Mesmo os mais básicos e que são disponibilizados a tantas outras associações. É caso para perguntar porque é que uns são filhos e outros afilhados.

Esta obra mostra que é possível construir um Porto que existe, resiste e insiste em soluções sociais justas. Um Porto onde as comunidades não são expulsas, mas sim valorizadas e integradas.