Reunião com a Saber Compreender

Reunimos com a Associação Saber Compreender, uma organização totalmente composta por voluntários que acompanha de perto as pessoas em situação de sem-abrigo.

A Saber Compreender tem uma característica muito especial: é dirigida por Cristian Georgescu, romeno, de etnia cigana, e que viveu em situação de sem-abrigo na nossa cidade durante vários anos. E esta característica não é indiferente à forma de actuar da associação e à sua relação com as pessoas em situação de sem-abrigo. É uma abordagem feita na 1.ª pessoa: estive aqui, sei o que estás a viver e sei que é possível voltar a ter uma vida digna.

Durante a visita, a associação lançou um alerta claro: é urgente que a intervenção social na cidade seja orientada pela defesa dos Direitos Humanos e pela garantia da dignidade da pessoa, sobretudo num contexto político marcado pelo crescimento de discursos de exclusão e discriminação.

A Saber Compreender sublinhou que, apesar da existência de uma Estratégia Nacional para as pessoas em situação de sem-abrigo, continuam a persistir falhas significativas na inclusão. O acesso à habitação, destacou a associação, deve ser entendido como um direito fundamental e não como um objetivo distante.

Entre os contributos apresentados pela associação, e que subscrevemos inteiramente, estiveram:

- a necessidade de garantir a participação efectiva das pessoas em situação de sem-abrigo nas decisões que lhes dizem respeito;

- o reconhecimento da figura do mediador/educador de pares, com valorização profissional deste perfil;

- o reforço da formação contínua de equipas e dirigentes;

- e a importância de um trabalho interinstitucional coordenado, capaz de influenciar políticas públicas mais eficazes.

A associação apelou ainda ao envolvimento do sector privado, através de apoios materiais e da inclusão laboral de pessoas em situação de vulnerabilidade.

Recordando o Pilar Europeu dos Direitos Sociais, a Saber Compreender concluiu que o combate à pobreza e à exclusão extrema tem de ser uma prioridade agora, destacando que a cidade do Porto não pode desperdiçar esta oportunidade de garantir respostas sociais mais humanas e inclusivas.

No final da reunião, reafirmámos o nosso compromisso em colocar os Direitos Humanos no centro da intervenção social no Porto. Sublinhámos que a participação das pessoas em situação de sem-abrigo deve ser efectiva, que o acesso à habitação tem de ser garantido como um direito concreto e que a cidade deve avançar com políticas públicas assentes na dignidade e na inclusão e não exclusivamente na assistência. Estas prioridades, como aconteceu durante o presente mandato, farão parte central do nosso programa político e da nossa acção futura na Câmara Municipal.

Nenhuma cidade é verdadeiramente justa nem democrática se deixar alguém para trás. Estamos aqui e no Porto, ninguém ficará esquecido.