
No segundo dia de campanha eleitoral no Porto, percorremos a freguesia de Paranhos, onde visitámos espaços simbólicos da cidade que ilustram bem as opções políticas que têm sido tomadas: imóveis devolutos, património abandonado e terrenos entregues à especulação. Lugares que poderiam e deveriam estar ao serviço da cultura, da habitação e das necessidades sociais da população.
O regresso do Vale Formoso
Iniciámos o percurso no Cine-Teatro Vale Formoso, onde assinalámos uma boa notícia para o Porto, fruto de uma luta que travámos intensamente. O Vale Formoso, depois de classificado como património cultural, será de novo uma casa de cultura, destinada a reanimar Paranhos e a ampliar a oferta cultural diversificada na cidade.
Foi pela nossa iniciativa e de tantas pessoas da cidade que o mesmo aconteceu com o Batalha e com o Trindade, e agora é a vez do Vale Formoso. Esperamos que os seus novos proprietários não se esqueçam do cinema, aproveitando a excelente recepção que o regresso das salas de cinemaa têm tido no Porto, para devolver à cidade um espaço de proximidade e acesso cultural.
Palacete do Campolindo: abandono incompreensível
Seguimos depois para o Palacete do Campolindo, um edifício belíssimo e propriedade do Estado (Segurança Social). Até 2023 funcionava ali um lar de infância e juventude, resposta essencial para a cidade.
Mas, sem qualquer explicação, o lar fechou portas nesse ano. As crianças foram distribuídas por outras instituições e, desde então, o edifício encontra-se ao abandono, sendo um dos 20.270 devolutos que marcam o Porto.
Sublinhe-se que o espaço está inscrito no PDM para equipamentos, não podendo ter outro destino. Numa cidade tão carente de creches e de tantas outras respostas sociais, é inaceitável que o Estado mantenha o edifício devoluto e em degradação, em vez de o colocar ao serviço das necessidades da população.
Charca de Salgueiros: especulação em vez de respostas
A terceira paragem foi na Charca de Salgueiros, um caso ainda mais grave. O terreno, originalmente público, foi cedido ao Salgueiros para a construção do seu novo estádio do clube. Como o projeto não se concretizou em tempo útil, uma parte foi inicialmente vendida a privados (2006) e, mais tarde (2016), aquando da total insolvência do Salgueiros, a restante área foi igualmente alienada em hasta pública. Ou seja, o município desfez-se de um terreno magnífico para o entregar a privados.
Hoje, o que resta é um enorme terreno vazio, numa cidade em crise habitacional.
Na visão do Bloco de Esquerda, este espaço deveria estar a servir a cidade: um grande parque verde ou, em alternativa, uma negociação com os proprietários para construir habitação a custos justos para os portuenses. A inércia, ligada à especulação imobiliária que apenas faz aumentar o valor do terreno, é inadmissível e impede que este espaço responda às necessidades urgentes da freguesia.
Demasiados imóveis devolutos
Por toda a região que percorremos em Paranhos, registámos ainda a existência de imensas propriedades devolutas ou desocupadas. Algumas são privadas, mas várias pertencem à Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Um exemplo de edifícios abandonados é o que albergava o Ballet-Teatro (Jardim de Arca d’Água), desalojado à pressa, e que continua à venda anos depois. Um imóvel entregue à especulação, degradando-se dia após dia, quando poderia estar a contribuir para a vida cultural e social da cidade.
Conclusão: Paranhos mostra o Porto que falta construir.
Paranhos é um retrato fiel dos problemas do Porto: património abandonado, terrenos vazios, equipamentos fechados e especulação imobiliária a bloquear soluções.
Para o Bloco de Esquerda, estes espaços devem ser devolvidos à cidade e às pessoas: mais cultura, mais habitação a custos justos, mais respostas sociais e mais espaços verdes. Porque o Porto precisa de escolhas políticas que coloquem o bem comum acima do lucro privado.