Lapa: a história de um bairro e a persistência de um povo

Na Lapa, a história de um bairro cruza-se com a persistência de um povo. Entre casas erguidas no SAAL, em 1974, ficaram promessas por cumprir — mas nunca faltou a coragem de quem aqui vive e resistiu.

Na visita à Associação de Moradores da Zona da Lapa, encontrámos mais do que memórias: encontrámos prova viva de que a organização popular transforma o impossível em realidade. Ao longo dos anos, os moradores foram recuperando as suas casas, uma a uma, num esforço paciente e coletivo que hoje está praticamente concluído. Quem por aqui passa já não vê ruínas nem abandono, vê habitações que parecem novas, erguidas com a força de uma comunidade que nunca se resignou ao esquecimento.

Mas nem tudo tem corrido de acordo com a vontade de quem melhor conhece o bairro. A Associação tinha proposto que a sua sede fosse integrada no espaço do parque infantil recuperado, de modo a permitir uma gestão próxima e partilhada. Essa solução daria maior confiança aos moradores e garantiria um funcionamento mais vivo do próprio parque.

Contudo, a autarquia optou por manter a gestão exclusiva do município. O resultado é um espaço com utilização muito reduzida, condicionado por horários restritos e pela falta de profissionais que o apoiem. Uma limitação que, segundo a Associação, poderia facilmente ser superada com a sua participação ativa, colocando o parque verdadeiramente ao serviço das crianças e das famílias da Lapa.

Esse contraste entre a energia comunitária e a falta de visão municipal é lamentável. A cidade precisa de líderes que confiem nos moradores, que descentralizem a gestão, que vejam nas associações parceiras e não meros espectadores.

Na Lapa, não vemos apenas casas recuperadas; vemos a vitória da comunidade sobre o abandono, vemos abril refeito em cada parede pintada, em cada janela restaurada. Mas também vemos o que falta: uma autarquia capaz de caminhar lado a lado com os moradores, em vez de lhes virar as costas.

E assim, entre ruas que parecem novas, mas guardam décadas de luta, a visita terminou com uma certeza: a dignidade conquistada na Lapa é o exemplo de que a cidade justa e solidária é possível — e que o Bloco lutará por ela em cada bairro do Porto.