
Ontem regressámos às Eirinhas. Ouvimos moradores revoltados e angustiados, famílias que vivem há décadas em casas que agora estão a ser trocadas como fichas de casino num negócio da Diocese do Porto.
É preciso recordar algo que muitos tentam apagar: estas casas não foram compradas pela Igreja para especular. Foram doadas à Diocese para cumprir uma função social — alojar famílias que não tinham condições para aceder a outro tipo de habitação.
E foi com esse espírito que durante gerações as Eirinhas foram um bairro popular, feito de gente simples, de rendas acessíveis, de comunidade.
O que a Diocese faz agora é uma traição directa a essa confiança. Através de uma permuta indecorosa, passando a propriedade para as mãos de uma empresa de construção, troca 15 habitações por um T0 ainda por construir, avalia casas de vida inteira a preço de saldo, ultrapassa o direito de preferência dos moradores e da Câmara Municipal. Tudo isto nas costas de quem lá vive.
Não é apenas uma injustiça. É um escândalo moral e com contornos legais muito duvidosos. Uma instituição que se proclama guardiã da solidariedade cristã age como o pior dos promotores imobiliários, virando as costas à missão para a qual lhe foi confiado este património.
Enquanto candidato do Bloco de Esquerda à Câmara do Porto, digo sem hesitar: este negócio é vergonhoso e não pode servir de modelo para o futuro da cidade.
Exigimos:
• Suspensão imediata dos despejos que ameaçam moradores.
• Transparência total nos contratos e avaliações: a cidade tem direito a saber como se decide o destino do seu património.
• Respeito pelo direito de preferência das famílias que vivem nas Eirinhas.
• Intervenção firme da Câmara, que deve defender o interesse público e o direito à habitação.
O Porto não pode aceitar que o património doado para proteger os mais vulneráveis seja transformado em activo financeiro. A cidade não pertence à especulação nem à Diocese; pertence a quem aqui vive, trabalha e constrói comunidade todos os dias.
Continuaremos a estar ao lado das famílias das Eirinhas, e de tantas outras que são quotidianamente ameaçadas pela voracidade de um mercado sem escrúpulos. Porque o Porto que defendemos é o da solidariedade verdadeira, não o da hipocrisia que expulsa quem tem menos para enriquecer quem já tem demais.