
No dia 9 de setembro reunimos com a Federação Académica do Porto (FAP) para debater os desafios e aspirações da comunidade estudantil.
A FAP representa milhares de estudantes da cidade e tem sido uma voz activa na defesa de melhores condições de estudo, habitação acessível e participação cívica. Além disso, apresentou recentemente um Manifesto para as eleições autárquicas, com o qual partilhamos quase todas as propostas e preocupações.
Durante a reunião discutimos:
• Habitação estudantil acessível, combatendo a especulação e garantindo alojamento a preços justos. Uma das soluções passa por dar um novo uso a espaços devolutos ou subutilizados de instituições da cidade, que poderiam ser reconvertidos em residências estudantis. O exemplo do Instituto Profissional do Terço, transformado numa residência universitária pela FAP, mostra que esta estratégia é viável e deve ser replicada noutros locais da cidade. Equipamentos municipais sem uso, antigos edifícios públicos ou património do Estado devoluto devem ser colocados ao serviço da comunidade académica, em articulação com a FAP;
• Mobilidade, com passes mais baratos e transportes públicos fiáveis e sustentáveis, capazes de responder às necessidades dos milhares de estudantes que vivem e circulam diariamente no Porto;
• Participação cívica e cultural, assegurando que a cidade valoriza os jovens como protagonistas da vida democrática e como agentes fundamentais da vida cultural e associativa.
A FAP sublinhou ainda a importância, em termos económicos, de estancar a saída de licenciados para Lisboa e para o estrangeiro, uma fuga que resulta de salários baixos e más condições de trabalho. Partilhamos essa preocupação, mas acrescentamos que este fenómeno está também ligado ao modelo económico da cidade: uma economia assente quase exclusivamente na monocultura do turismo, que empurra o salário médio do Porto para valores inferiores à média nacional. Para inverter esta realidade é necessário diversificar a base produtiva, valorizar o trabalho qualificado e criar condições para que os jovens possam construir futuro no Porto.
Em relação ao Manifesto da FAP, apenas expressámos uma reserva quanto à proposta de subsidiação de rendas. Consideramos que este tipo de apoio, embora bem-intencionado, pode ter o efeito contrário ao desejado: alimentar a subida dos preços, beneficiando sobretudo os operadores privados (nomeadamente os que já oferecem quartos em residências universitárias com preços exorbitantes) em vez de garantir soluções estáveis para os estudantes. Defendemos, por isso, que a prioridade deve ser o reforço da oferta pública de habitação estudantil, colocando o património devoluto da cidade ao serviço da comunidade.
Para o Bloco de Esquerda, a cidade deve ser construída com quem a vive todos os dias. Os estudantes não são apenas visitantes temporários: fazem parte do tecido social, cultural e económico do Porto. Por isso, as suas reivindicações têm de ser ouvidas e integradas nas políticas municipais.
Esta reunião foi apenas o início de um diálogo que queremos constante. O futuro do Porto também se joga na capacidade de manter os jovens na cidade, com qualidade de vida e perspetivas de futuro.