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Coliseu é património do Porto, não é negócio!

José Castro
Foto de António Amen

A assembleia geral da Associação “Amigos do Coliseu do Porto” realizada na 6ª feira, 13 de março, aprovou mandatar a Direcção para lançar concurso público com vista a uma concessão a privados para a “reabilitação, requalificação e exploração” do Coliseu.

Inaugurados há quase 80 anos e mandados construir pela companhia de seguros Garantia no espaço do antigo jardim Passos Manuel com projecto dos arquitectos Cassiano Branco e Júlio de Brito, o edifício do Coliseu e a sala de espectáculos com mais de 3.000 lugares não tiveram durante muito tempo as necessárias obras de manutenção, agora orçamentadas em 8 milhões de euros.

Aquela deliberação só ocorreu por força dos votos dos três associados institucionais: Estado (Direção Regional de Cultura do Norte), Área Metropolitana do Porto e Município do Porto que detêm, em conjunto, 55.000 dos quase 56 mil votos da assembleia geral. Por parte dos poucos associados individuais presentes, a posição foi outra: a de discordância em relação ao processo e à proposta apresentada pelos três sócios maioritários de entregar a privados a realização de obras e a exploração durante anos daquele símbolo cultural da cidade do Porto.

De acordo com a intervenção que fiz na assembleia geral na qualidade de associado, reforço que os órgãos sociais da Associação “Amigos do Coliseu do Porto” receberam há 25 anos do povo do Porto uma orientação muito clara: um mandato expresso de salvar o Coliseu da destruição anunciada e garantir que aquele equipamento continuasse a ser um local de cultura e de espetáculos para toda a cidade.

Importa ainda lembrar que na formidável manifestação popular realizada em 1995 contra a intenção da então proprietária (a seguradora Aliança UAP) de vender aquele património afectivo da cidade a um grupo religioso para finalidades incompatíveis com a história do Coliseu  foi definido o “caderno de encargos” da associação que foi criada: manter em boas condições de funcionamento o edifício e equipamentos e assegurar uma programação que prestigiasse o Coliseu e servisse a cidade.

Por esse motivo devem ser os associados institucionais (e maioritários) a assumir as suas responsabilidades, realizando as obras necessárias, mesmo que num projeto com custos mais contidos, e mantendo a Associação “Amigos do Coliseu do Porto” a gerir a programação, como tem acontecido.

A proposta dos três associados institucionais não tem apenas falta de transparência, como apontaram alguns dos presentes na assembleia geral. O que a proposta do Estado (DRCN), da Área Metropolitana do Porto e do Município do Porto tem de absolutamente intolerável é que visa entregar por muitos anos a exploração e a programação do Coliseu do Porto a um grupo privado, com óbvias finalidades lucrativas. E tal propósito é um desrespeito pelo clamor popular manifestado em 1995, é uma autêntica traição à reivindicação dos milhares de populares que, há quase 25 anos, desceram à rua em defesa do Coliseu como símbolo cultural da cidade.

Como se gritou em 1995, o Coliseu é do povo, o Coliseu é do Porto, não é do negócio.

 

José Castro